Fotos : Ana Isabel Alves

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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A Ação e os Três Gunas 







 O sábio Patanjali, autor do Yoga Sutras, o livro didático básico de ioga, afirma que a qualidade das nossas ações depende dos gunas que predominam em nós. Os três gunas - sattva, rajas e tamas - são considerados como as qualidades fundamentais da natureza, ou prakriti. Para podermos compreender isso plenamente, temos de examinar a interpretação hindu da criação e da dissolução do universo. Diz-se que de tempos em tempos o universo se dissolve e depois é recriado. Quando ele está em sua fase não-definida, não manifestada, ele permanece em um estado latente no decorrer de um certo período. Durante este tempo, os gunas encontram-se em um estado de absoluto equilíbrio, e prakriti ou a natureza material, não se manifesta. Enquanto os gunas permanecem não-definidos, prakriti continua indefinido e o universo existe apenas em um estado potencial. Tudo que existe é consciência, o Ser Puro ilimitado e não-manifestado, Brahma, o Absoluto Imutável, que não tem começo nem fim. Logo que o equilíbrio é perturbado, tem início a recriação do universo. A partir da consciência imutável, o universo, em constante transformação, é mais uma vez criado. Os gunas participam de uma enorme variedade de combinações e permutações, em que um ou outro predomina sobre os restantes. Isso dá origem à interminável variedade de fenômenos físicos e mentais que formam o mundo que vivenciamos.






 Os gunas são às vezes descritos como energias, outras vezes como qualidades ou forças. Eles representam um triângulo de forces simultaneamente opostas e complementares que governam tanto o universo físico quanto nossa personalidade e padrões de pensamento na vida do dia-a-dia, dando origem às nossas realizações ou fracassos, alegrias ou infelicidade, saúde ou doença. No que diz respeito à ação, sattva é a força criativa, a essência da forma que precisa se concretizar. Tamas é a inércia, o obstáculo a esta concretização. Rajas é a energia ou o poder por meio do qual o obstáculo é removido e a forma toma-se manifesta. Examinemos o exemplo oferecido por Swami Prabhavananda e Christo­pher Isherwood em How to Know God (Como Conhecer Deus) (o Yoga Su­tras, de Patanjali). Suponhamos que um escultor deseje criar na pedra uma estátua do Senhor Krishna. A idéia da estátua, a forma que o artista vê em sua imaginação, o impulso criativo e a imagem são inspirados por sattva. O mármore representa tamas, a solidez sem forma, o obstáculo que precisa ser superado.
Prabhavananda diz que o próprio escultor também pode encerrar um elemento de tamas. Ele pode pensar: "Estou cansado; por que eu deveria trabalhar tanto? Isto é difícil demais! Acho que vou fazer algo mais fácil." Mas aqui a força de rajas vem em sua ajuda. O rajas se manifesta na ener­gia e na vontade do escultor, por meio das quais ele vence na sua mente a letargia tamásica e a inércia sólida da pedra. Rajas também inspira o esforço físico e muscular que ele aplica ao trabalho.  
Swami Prabhavananda afirma que se uma quantidade suficiente de rajas for gerada, o obstáculo de tamas será superado e a forma ideal concebida por sattva será criada no bloco de granito. Este exemplo de­monstra que os três gunas são necessários para qualquer ação criativa. "Sattva, sozinho", ele diz, "seria apenas uma idéia não concretizada, rajas sem sattva seria uma mera energia não direcionada; rajas sem ta­mas seria como uma alavanca sem um fulcro; e tamas sozinho seria a inércia." Sattva é freqüentemente considerado como representando a pureza e a tranqüilidade; rajas se refere à ação, ao movimento e à violência; tamas é o princípio da solidez, da imobilidade, da resistência e da inércia. Os três gunas estão presentes em tudo, mas um deles sempre predomina. Sattva prevalece à luz do sol, rajas num vulcão em erupção e tamas num bloco de pedra.  Na nossa mente, os gunas se apresentam num relacionamento que mu­da com rapidez. Deste modo, experimentamos disposições de âni­mo diferentes durante o dia. Se sattva predomina, podemos ter momentos de inspiração, de afeto desinteressado, de alegria tranqüila ou calma medi­tativa. Sattva representa a pureza, a luz, a inteligência, o conhecimento, a satisfação, a clareza mental, a bondade, a compaixão e a cooperação. A calma e a paz prevalecem numa pessoa ou numa disposição de ânimo sattvica. As qualidades da pessoa na qual sattva predomina incluem a coragem, a integridade, a pureza, a capacidade de perdoar e a ausência da paixão, da raiva e do ciúme. Esta pessoa é calma e feliz. Quando sattva domina, a mente toma-se firme como a chama de uma lanterna num local onde não há vento. A mente equilibrada ajuda tanto a atividade quanto a meditação, e aquele que é predominantemente sattvico pode meditar com eficácia e é capaz de ter uma verdadeira concentração. A pessoa com rajas dominante nunca fica em paz. Rajas provoca explosões de raiva e gera um desejo intenso. Ele toma a pessoa inquieta e descontente, e dá origem a uma contínua atividade. A pessoa com rajas dominante não consegue permanecer sentada, quieta; ela precisa ter sempre algo para fazer. A grande paixão é rajas, assim como a agressividade, a ganância e a raiva também o são. Ao mesmo tempo, rajas na sua expressão mais positiva, especialmente quando combinado com sattva, é responsável por uma atividade construtiva e criativa, pois gera energia, entusiasmo e coragem física.
 
A pessoa rajásica adora o poder e os objetos dos sentidos. Ela se apresenta em constante atividade e anseia sempre por mais poder para ser capaz de dominar os outros; ela também é muito apegada às coisas materiais. A manifestação direta do rajas dominante é a chama insaciável do desejo. Os desejos precisam ser satisfeitos, caso contrário a vida da pessoa toma-se deplorável! Quanto mais ela consegue satisfazer os desejos, mais ela quer. Ela sempre quer mais - um pouco mais, um pouco mais, um pouco mais... Ela conquista riqueza, poder, reputação e fama, mas nunca é suficiente. 
Quando rajas é intenso, ele encobre o conhecimento e toma-se inimigo da sabedoria. Sob a pressão de rajas, o homem alimenta ganância, luxúria e raiva. Rajas ataca a pessoa através dos sentidos, da mente e do entendimento, iludindo a alma encarnada. Para que a pessoa tenha uma vida proveitosa e paz de espírito, rajas precisa ser apaziguado e equilibrado com sattva. "Tamas", diz Swami Prabhavananda, "é atoleiro mental no qual afundamos sempre que sattva e rajas deixam de prevalecer." Quando tamas prevalece na nossa mente e há disposição de ânimo, externamos algumas das nossas piores características: preguiça, burrice, obstinação e um desespero forte e profundo. Tamas é freqüentemente descrito como a escuridão e a inércia. O desamparo, o embotamento, a confusão, a resistência e a ignorância também são características de tamas. Quando ele domina, a mente pode ficar esquecida, sonolenta, apática e incapaz de qualquer ação ou pensamento proveitoso. A pessoa dominada por tamas pode se parecer mais com um animal do que com um ser humano; sem poder fazer um julgamento claro, ela pode deixar de distinguir entre o certo e o errado. Como um animal, ela viverá para si mesma e poderá ferir os outros para satisfazer seus desejos. Na sua ignorância e cegueira, ela poderá praticar ações perversas.

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